A prova de amizade. Segunda Guerra Mundial, 1939-1945 (Parte II)
O papel principal no apoio aos refugiados polacos coube ao Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Portugal, criado em julho de 1940 e subordinado ao Ministério do Trabalho e da Assistência Social no exílio em Londres. Até 1944, foi dirigido pelo diplomata Stanisław Schimitzek. O Comité pagou abonos regulares e subsídios aos refugiados. Até 1942, atuava principalmente na prestação de cuidados, concentrando-se depois na evacuação dos polacos de França e na ajuda aos polacos na Polónia ocupada A Delegação da Cruz Vermelha Polaca, chefiada pelo ministro plenipotenciário Jozef Potocki, teve um papel importante, dedicando-se a apoiar os prisioneiros de guerra polacos nos campos alemães e mediando a correspondência com a Polónia. A partir de 1941, a Delegação para a Europa do Conselho da Comunidade Polaca na América, chefiada por Florian Piskorski, estava também sediada em Lisboa. Distribuía ajuda de americanos de origem polaca a compatriotas no país e no exílio.
Desde o verão de 1940 até ao início de 1942, o grupo mais numeroso de cidadãos polacos que encontraram refúgio em Portugal eram judeus polacos (de nacionalidade judaica, grande parte dos quais, antes do início da guerra, vivia permanentemente, principalmente em França, na Bélgica e na Holanda), mas também polacos de origem judaica que, ao abrigo das leis racistas de Nuremberga, podiam ser considerados judeus pelos nacional-socialistas alemães. Estes dois grupos constituíam a maioria dos refugiados polacos em Portugal. Receberam ajuda através da cooperação entre o Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos e organizações judaicas. A evacuação deste tipo de refugiados deparou-se com enormes dificuldades, principalmente devido à recusa de muitos países em conceder vistos aos judeus. Durante muito tempo não foi possível obter direito de entrada em nenhum país para cerca de 250 cidadãos polacos de nacionalidade judaica.
Durante muito tempo, só foram possíveis viagens individuais às Ilhas Britânicas ou à América do Norte ou à América do Sul. Estas eram parcialmente financiados pelo Comité de Auxílio e, no caso dos judeus, por organizações judaicas que pagavam pela sua evacuação por barco. Estas viagens não eram seguras. Só em 1942 é que o referido grupo de judeus polacos conseguiu ser transportado para a Jamaica, então colónia britânica — e assim se eliminou este “noyau” (do francês: congestionamento) . As autoridades portuguesas, reconhecendo os esforços e a boa vontade do governo polaco, já tinham concedido vistos em situações em que a pessoa em questão tinha um visto de destino e uma prova de pagamento de um bilhete de barco para a América. Além disso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português concedeu à legação polaca uma quota permanente e renovável de vinte vistos. Por sua vez, alguns cônsules portugueses em França concediam vistos, fazendo vista grossa à ausência de vistos ou a vistos de destino falsos ora certificados do agente da companhia do navio igualmente forjados.
Os refugiados polacos que conseguiram ficar em Lisboa contribuíram para a criação de uma comunidade internacional que enchia os cafés da Avenida da Liberdade. No entanto, as saudades da pátria, as experiências traumáticas em tempo de guerra, os frequentes dramas pessoais, a ansiedade sobre o seu próprio destino e o da sua família e os rumores sobre as ameaças a Portugal tornaram os exilados nervosos e amargos. Da Polónia, chegavam notícias de terror e de perseguição sob ambas as ocupações, da firme convicção da nação na vitória, e do fenómeno do Estado Clandestino polaco, a maior estrutura do seu género numa Europa ocupada. Muitos refugiados sofreram com a inação. Num grupo tão grande, havia indivíduos que abusavam da hospitalidade portuguesa, incluindo especuladores e negociantes de divisas. As atitudes de reivindicação ocorreram excecionalmente, as memórias polacas contêm geralmente palavras de gratidão para com os portugueses. Como é normalmente no caso de um encontro tão massivo e repentino entre representantes de duas nações, houve — embora muito raramente — incidentes, mas em relação aos polacos em número muito menor do que noutros países. Também não faltaram situações divertidas resultantes das diferenças culturais. Por exemplo, as mulheres polacas chamavam a atenção: passavam o tempo nos cafés, vestiam fatos de banho decotados, andavam sem meias de vidro e usavam vestidos curtos e arejados.
LEGENDAS DAS FOTOGRAFIAS
- O Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Portugal na sede da Legação da Polónia. O terceiro sentado à esquerda é o seu presidente, Stanisław Schimitzek. Lisboa, c. novembro-dezembro de 1940. © ZJK
- Funcionários do Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Lisboa. A terceira a contar da esquerda é a médica do Comité, a Dr.ª Adelaide Constantino Viegas. Na fila inferior, entre outros, os trabalhadores portugueses da secção de encomendas do Comité. Foto de setembro de 1942. © ZJK
- Funcionários polacos e portugueses do Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Portugal. Quinto a contar da esquerda, Stanisław Schimitzek, presidente do Comité. Lisboa, julho de 1944. © ZJK
- O edifício na Rua Rodrigo da Fonseca n.º 49, em Lisboa, que, entre 1941 e 1945, albergou a sede do Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Portugal e, até 1942, também a Delegação da Cruz Vermelha Polaca. Entre 1941 e 1944 © ZJK
- Primeira sede do Comité de Auxílio aos Refugiados Polacos em Portugal (entre julho e outubro de 1940) na Rua Silva Carvalho n.º 347 em Lisboa, no mesmo edifício que albergou a Legação da Polónia (na parte à direita da fotografia). Foto de 2011. © MM
- Funcionários do centro polaco de refugiados na Ericeira, cidadãos polacos de nacionalidade judaica. O segundo a contar da direita é o delegado do Comité na Ericeira, Jakub Kerner. 24 de abril de 1944. © ZJK