Com os olhos no futuro. De 1989 até aos dias de hoje (Parte II)

No campo económico, o desenvolvimento mais espetacular das relações bilaterais tem sido o investimento português na Polónia, um mercado estratégico na Europa Central e de Leste para as empresas lusas. As marcas mais conhecidas conseguiram conquistar uma posição de destaque: o Grupo Jerónimo Martins, proprietário dos supermercados Biedronka, a maior cadeia retalhista da Polónia, para além de ser o maior empregador privado do país; o Bank Millennium BCP, que inclui o Bank Millennium (até 2003, Bank Gdański), é o sétimo maior banco da Polónia; e ainda a empresa de energias renováveis EDP Renováveis e a empresa de construção Mota-Engil. Um papel importante tem sido desempenhado pela Câmara de Comércio Polónia-Portugal, estabelecida em 2008, e que atualmente reúne cerca de duzentas empresas e é a quarta maior câmara de comércio portuguesa no mundo e a sexta bilateral na Polónia, sendo também ativa noutros países de língua portuguesa.

No final de 2020, o valor do capital português investido na Polónia ascendia a 820 milhões de euros, valor inferior, por exemplo, ao de 2018, em que se cifrou em 1,63 mil milhões de euros. Os investimentos polacos em Portugal, por outro lado, ascenderam a 64 milhões de euros neste mesmo período — a Asseco, do sector da engenharia informática, e a Inglot, fabricante de cosméticos, são algumas das empresas proeminentes. O comércio bilateral tem vindo a crescer de forma constante (em 2021, atingiu um valor recorde de mais de 2,6 mil milhões de euros), embora a sua quota percentual nas exportações e importações de ambos os países não exceda 2%. Durante anos, a Polónia registou um saldo positivo neste comércio, que diz principalmente respeito aos produtos da indústria eletromecânica. A Polónia está a compensar rapidamente as enormes perdas e o atraso de desenvolvimento dos anos 1939-1989, aproximando-se lentamente do nível económico de Portugal. No início da transformação, a diferença na força das economias, medida pelo PIB per capita, era duas vezes maior a favor de Portugal.

O desenvolvimento generalizado das relações bilaterais em muitos campos não poderia deixar de resultar no crescimento do interesse pelas relações comuns ao longo dos últimos séculos. O estudo académico mais importante acerca dos laços polaco-portugueses é a monografia sobre as relações culturais e literárias, bem como históricas, do século XVI ao século XIX, publicada, em 1991, pela prof.ª doutora Elżbieta Milewska, da Universidade de Varsóvia, falecida em 2019. Dezenas de importantes iniciativas culturais e científicas foram organizadas sobre os contactos e laços polaco-portugueses. Foram comemorados, entre outros, através das seguintes iniciativas: a exposição “Portugal na Coleção da Biblioteca de Gdańsk” (2000); a inauguração do busto do marechal Józef Piłsudski no Funchal, na Madeira (2009); a lápide do insurgente de Novembro e general do exército português, José Chelmicki, em Tavira; a placa comemorativa da estada de Ignacy Jan Paderewski no Hotel Palácio, no Estoril, em 1940; a exposição, no Estoril e em Varsóvia, dedicada aos refugiados polacos em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial (2011); a inauguração de um busto de Fryderyk Chopin em Lisboa (2012); a exposição “(Des)continuidades. O Século XX Português: da Queda da Monarquia à Revolução dos Cravos”, na Casa dos Encontros com a História, em Varsóvia (2014); as celebrações, na capital polaca, dedicadas ao 75.º aniversário do acolhimento dos refugiados civis e militares polacos durante a Segunda Guerra Mundial (2015); o congresso lusitanista “A Volta ao Mundo em 40 Anos: Encontros e Reencontros em Língua Portuguesa”, organizado pelo Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Varsóvia, por ocasião do 40.º aniversário do estabelecimento dos Estudos Portugueses na instituição (2018); a exposição “Enquanto Portugal dominava no mar: a época dourada da história da Polónia”, na Assembleia da República em Lisboa (2019); os concertos comemorativos, em ambas as capitais, para assinalar o 100.º aniversário do restabelecimento das relações polaco-portuguesas (2022). Houve também centenas de conferências, exposições, concertos e recitais musicais, concursos, jornadas culturais, representações teatrais e exibições de filmes, promovidas por instituições estatais como a Embaixada de Portugal em Varsóvia e a Embaixada da Polónia em Lisboa, o Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, e organizações não governamentais. Em ambos os países, a literatura do outro país é cada vez mais conhecida, o que se deve sobretudo aos prémios Nobel da literatura já outorgados, bem como a numerosos tradutores.

Atualmente, a República Portuguesa e a República da Polónia beneficiam de uma conjuntura excecional, continuando a desenvolver relações de profunda amizade. Juntos estão a construir a União Europeia e a Aliança do Atlântico Norte. Ambos os nossos países são democráticos e independentes, o que é condição sine qua non para a possibilidade de se desenvolverem relações bilaterais normais e produtivas em todas as áreas importantes da vida. Esta consciência sobre a maior proximidade das relações deve ser acompanhada por uma reflexão sobre a tradição dos laços seculares de amizade entre os dois povos e estados.

LEGENDAS DAS FOTOGRAFIAS

  • A presidente da Assembleia da República Portuguesa, Maria da Assunção Esteves, fala no Sejm, câmara baixa do parlamento polaco, em Varsóvia durante a cimeira dos chefes dos parlamentos da União Europeia. 20 de abril de 2012. © PAP (L. Szymański)
  • O presidente da República da Polónia, Bronisław Komorowski, e o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, revelam o busto de Fryderyk Chopin. A segunda a contar da esquerda é a prof.ª doutora Anna Kalewska, da Universidade de Varsóvia, especialista em estudos portugueses e tradutora. 19 de abril de 2012. © PAP (J. Turczyk)
  • O reitor da Universidade Jaguelónica, o professor Wojciech Nowak, condecora, com a medalha “Pro Ratio Quam Vis” (Vale mais a razão que a força), o presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, durante uma reunião do Senado da Universidade Jaguelónica por ocasião do 650.º aniversário da mais antiga universidade polaca. Cracóvia, 10 de maio de 2014 © PAP (S. Rozpędzik).
  • António Costa e Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro português e primeiro-ministro polaco respetivamente, durante uma reunião na Chancelaria do Primeiro-ministro em Varsóvia. 20 de maio de 2022 © PAP (M. Obara).
  • O presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da República da Polónia, Andrzej Duda, no Palácio Nacional de Belém, em Lisboa, durante uma visita de trabalho do chefe de Estado polaco. 27 de abril de 2016. © AHPR (M. Figueiredo Lopes).
  • O presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, escreve no livro de condolências, na Embaixada da República da Polónia em Lisboa, por ocasião da queda do avião do governo polaco que vitimou o presidente polaco, Lech Kaczyński, e a sua delegação. 11 de abril de 2010. © AHPR (L.F. Catarino).