Com os olhos no futuro. De 1989 até aos dias de hoje (Parte I)

A plenitude e a normalidade nas relações bilaterais entre a Polónia e Portugal só puderam ser alcançadas após o colapso do comunismo na Europa Central e de Leste, embora o papel do relançamento das relações entre 1974-1989, especialmente nos domínios cultural e científico, não deva ser subestimado. A Polónia recuperou a sua soberania e levou a cabo uma transformação democrática e socioeconómica, iniciada em junho de 1989 com as eleições para o Sejm, câmara baixa do parlamento, e para o Senado, inquestionavelmente vencidas pela oposição do Solidariedade. Livre da tutela de Moscovo, Varsóvia foi finalmente capaz de prosseguir uma política externa independente, embarcando a tempo e de acordo com a vontade pública no caminho da integração com as Comunidades Europeias e a OTAN. As relações mútuas experimentaram um reatamento de grande alcance e um desenvolvimento rápido, dependendo, no entanto, do potencial de ambos os países. Em março de 1992, durante a Presidência Portuguesa do Conselho da Comunidade Europeia, entrou em vigor a parte comercial do acordo de associação entre a Polónia e as Comunidades Europeias, assinado em dezembro do ano anterior. A Polónia estava interessada na experiência portuguesa rumo ao mercado comum.

Em 1993, o presidente da República da Polónia, Lech Wałęsa, fez uma visita oficial a Portugal; no ano seguinte, foi visitado pelo presidente da República Portuguesa, Mário Soares. Nos anos seguintes, tiveram lugar numerosos contactos a vários níveis, permitindo o desenvolvimento da cooperação em muitas áreas. Portugal acabou por conceder à Polónia um apoio amigável e ativo como parte da sua integração na União Europeia, apesar dos receios iniciais de perder apoios, entre outros, os fundos de coesão. Tratou a Polónia como o parceiro mais importante da Europa Central e de Leste, apoiando também a sua integração na OTAN. Os investimentos portugueses na Polónia estavam a começar, a cooperação entre regiões e cidades, bem como o comércio cresciam a um ritmo constante. Era importante celebrar novos acordos bilaterais com vista à promoção e proteção mútua dos investimentos, à abolição dos requisitos de vistos (1993), à prevenção da dupla tributação (1995), à cooperação no domínio do turismo (2003) e da ciência e tecnologia (2005). Tornou-se um símbolo de cooperação e de boas relações o facto de que os representantes dos dois países se sentam geralmente um ao lado do outro em vários fóruns internacionais em virtude da ordem alfabética.

De modo natural, o desenvolvimento das relações bilaterais polaco-portuguesas acelerou consideravelmente após a integração da Polónia na OTAN em 1999 e na União Europeia em 2004. Era o início, pois, desta intensificação sem precedentes na história e que continua até aos dias de hoje. Desde esta altura que o diálogo político entre a Polónia e Portugal tem sido conduzido ao mais alto nível, caracterizado por um considerável dinamismo nos contactos mútuos. A cooperação em diversas áreas é muito boa, há geralmente uma convergência de interesses políticos e económicos e uma vontade de cooperar na superação das crises na Europa. Os contactos académicos e a promoção da língua e cultura portuguesas estão a desenvolver-se através do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, nos centros de Estudos Portugueses em Varsóvia, Lublin (onde está o único Centro de Língua Portuguesa Camões na Polónia), Cracóvia (com a Cátedra Vergílio Ferreira), Poznań, Breslávia e Gdańsk. Na Universidade de Lisboa, os cursos de língua, literatura e cultura polacas continuam de forma intermitente. Foram abertos consulados honorários — um português em Poznań e dois polacos: no Porto e em Albufeira.

Um papel importante nos contactos mútuos, embora por vezes passe despercebido, é desempenhado pelo número crescente de polacos que vivem em Portugal e, em menor escala, pelos portugueses que se estabeleceram na Polónia, com o número dos primeiros a aumentar sistematicamente — desde 2006 que podem trabalhar legalmente em Portugal, e recentemente até se tornou moda entre os polacos mudarem-se para este país. Por sua vez, o programa Erasmus tem vindo a assegurar o conhecimento mútuo dos dois países pelos estudantes polacos e portugueses. O turismo também está a crescer. Foi intensificado em 2009 com o lançamento de uma ligação aérea direta, operada pela TAP Air Portugal, que foi seguida por outras. Em 2017, a Polónia esteve, pela primeira vez, entre os dez países cujos turistas mais visitam Portugal. Tornou-se um destino da moda, com os polacos a explorar as delícias de Lisboa, do Porto, da região do Algarve e um papel não insignificante desempenhado, ainda, pelas peregrinações ao santuário de Fátima. Segundo os números de 2019, cerca de 30.000 portugueses viajaram anualmente para a Polónia, e dez vezes mais polacos para Portugal.

LEGENDAS DAS FOTOGRAFIAS

  • O presidente da República da Polónia, Lech Wałęsa, com o presidente de Portugal, Mário Soares, no Castelo de São Jorge em Lisboa. 13 de maio de 1993. © PAP (J. Mazur)
  • O presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, e o presidente da República da Polónia, Aleksander Kwaśniewski, fazem a revista à guarda de honra em frente ao Palácio Presidencial em Varsóvia. 14 de setembro de 1998. © AHPR (J. Brilhante)
  • O presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, e o presidente da República da Polónia, Aleksander Kwaśniewski, no Palácio Nacional de Belém em Lisboa, antes do jantar oficial com os cônjuges. 1 de junho de 1998. © AHPR (O. Teixeira)
  • O presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, e o primeiro-ministro da República da Polónia, Donald Tusk, durante uma reunião no Palácio Belweder em Varsóvia. 3 de setembro de 2008. © PAP (R. Pietruszka)
  • O primeiro-ministro de Portugal, António Guterres, e o primeiro-ministro da República da Polónia, Jerzy Buzek, durante a cerimónia de boas-vindas em frente ao Palácio de São Bento, em Lisboa, durante a visita oficial do primeiro-ministro polaco. 20 de janeiro de 2000. © PAP/EPA (A. Cotrim)
  • Audiência do ministro dos Negócios Estrangeiros da República da Polónia, Bronisław Geremek, com o presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, no Palácio Nacional de Belém, em Lisboa. 4 de janeiro de 1999. © AHPR (J. Brilhante)