Integrado na comemoração do centenário do nascimento do poeta e ensaísta polaco Zbigniew Herbert, o concurso de poesia inspirado na personagem literária Senhor Cogito, organizado pela Associação Polaco-Ibérica Arendi Cultural, contou com a participação de 12 poetas que concorreram com um total de 20 poemas. O júri do concurso, composto por professores, editores e tradutores, distinguiu os seguintes poetas:
- 1.º prémio – Fernando Augusto Cunha de Sá (Cascais)
- 2.º menção honrosa – Carlos Alberto de Almeida Paiva (Amadora)
- 3.º menção honrosa – António Jacinto Rebelo Pascoal (Santa Clara)
Atendendo à elevada qualidade dos poemas submetidos a concurso, a Associação Arendi Cultural decidiu atribuir diplomas aos poetas que ficaram em 4.º e 5.º lugares; a saber:
- 4.º diploma – Rui Gonçalo Maia Rego, (Lisboa)
- 5.º diploma – João Rodrigo Piteira Dórdio (Bucelas) e Paulo Vaz (Beja)
A entrega dos prémios terá lugar no dia 25 de outubro, pelas 18:30, na sala B112.C da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
No poema vencedor, que abaixo se transcreve, o poeta Alencar, personagem de Os Maias, de Eça de Queirós, e o Senhor Cogito dialogam numa perspetiva luso-polaca contemporânea.
“O poeta Alencar e o Senhor Cogito”
Fernando Augusto Cunha de Sá
saído das páginas de um romance o poeta Alencar
agita a bengala junto da cabeleira romântica
vindo de um livro de poemas o Senhor Cogito
acena ao Senhor Alencar saltando dos versos para a rua
enchanté, monsieur Cogito miło mi, pan Alencar
os dois de braço dado descem do Chiado até ao Tejo
ouvem o fado discutem o porvir
Cogito pensativo Alencar melancólico
e entre os dois duas guerras mundiais flagelos planeados
horrores consumados com idêntica frieza
irá sobreviver a poesia?
ambos dizem que sim por distintas razões
emocionais umas outras racionais
mesmo sabendo o que foi
novo holocausto aguarda ao virar da próxima esquina
junto ao sereno Tejo noutro qualquer lugar
todos os vidros quebrados todos os livros queimados
gentes fugindo ao destino entre sinais de fogo
que restará depois de tudo consumado?
nem o Senhor Alencar nem o Senhor Cogito
têm na mão uma bola colorida
mas ambos declaram que haverá sempre
esperança no futuro
au revoir, Monsieur Cogito
do widzenia, pan Alencar