18, 19, 20 de novembro | Kino Iluzjon

ul. Narbutta 50A, Warszawa

É já no próximo dia 18 de novembro que arranca, no Kino Iluzjon em Varsóvia, a primeira retrospetiva sobre a obra de Manoel de Oliveira na Polónia. A edição inaugural de Varsóvia abre com Bruno Belthoise ao piano. O exímio pianista francês estará em Varsóvia para tocar, ao vivo, a banda sonora do primeiro filme de Manoel de Oliveira, e também desta retrospetiva, o Douro, Faina Fluvial de 1931. Depois a mostra segue viagem para outras paragens. Durante os seis meses seguintes, até abril de 2017, dez cidades polacas irão receber os 6 filmes que compõem esta retrospetiva. Os títulos foram escolhidos pelo Prof. Doutor Jakub Jankowski, professor de cinema português no Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Varsóvia.

A retrospetiva abre, como não podia deixar de ser, com o primeiro filme do realizador português, o documentário Douro, Faina Fluvial de 1931 e é seguido por mais dois clássicos de Manoel de Oliveira, o documentário Famalicão, de 1940, e a sua primeira obra de ficção, Aniki-Bobó de 1942. Seguem-se três obras fundamentais do realizador, estas já do período mais contemporâneo, o premiado em Cannes ‘Non’ ou a vã glória de mandar (1990), a irónica Divina Comédia, de 1991 e, a fechar a retrospetiva, a obra, A Caixa, de 1994, uma surpreendente comédia entre o fantástico e o absurdo.

18 de novembro

Douro, Faina Fluvial (1931)

19h00
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Um documentário, embora, em parte, encenado, vivo. Vivo porque, além da versão prévia (1929) e da primeira muda (1931), soa com as músicas posteriormente acrescentadas (de 1934 e 1994) e continua a inspirar artistas, como o provam algumas mostras com música improvisada ao vivo ou cuidadosamente preparadas para o efeito. Está é uma sinfonia da cidade, que orgulhosamente pode tomar o seu lugar ao lado de outros clássicos deste género, desde Manhattan de Strand/Sheeler (1921), passando por Ponte de Ivens (1928), até Berlim, sinfonia de uma grande cidade de Ruttmann (1927), sendo este último filme a inspiração quiçá mais direta para Oliveira. É de destacar que Douro não repete nada dos antecedentes, mas antes dialoga com Berlim, o que faz deste filme uma obra original e autossuficiente. No ambiente português é um filme totalmente diferente do que se faz na altura.

Realização, argumento, planificação e produção Manoel de Oliveira. Fotografia António Mendes. Música (versão sonora) Luís de Freitas Branco. Duração 21 mn (35 mm; p&b). Estreia Lisboa, Salão Central, 21 Set 1931 (versão muda). Estreia Lisboa, Tivoli, 8 Ago 1934 (versão sonora). Manoel de Oliveira editou, em 1995, uma nova versão com música de Emmanuel Nunes (Litanie du Feu et de la Mer), estreada na Cinemateca a 18 Jun 1996.

Famalicão (1940)

20h00
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Uma obra, injustamente, menos conhecida. Eis um belo exemplo de como falar sobre uma terra, um sentido de humor incomparável, onde a ironia nunca chega a escarnecer das gentes do Norte de Portugal, tão queridas para o realizador e, afinal, sua terra natal. Eis também um belo exemplo de como tornar um tema, uma vila e os seus arredores, num pedaço de algo cativante. O glamour desta pequena pérola está escondido nos pormenores, nos enquadramentos. Um dos pormenores é o modo de falar dos nortenhos. Outro, é o famosíssimo Vasco Santana, ator das comédias à portuguesa, que narra a história da vila de Famalicão com a sua voz e alegria inesquecíveis.

Realização, argumento, planificação e montagem Manoel de Oliveira Produção MAOM Fotografia António Mendes Música Jaime Silva (filho) Duração 24 mn (35 mm; p&b) Antestreia Porto, S. João, 1940. Estreia Lisboa, Tivoli, 27 Jan 1941.

19 de novembro

Aniki-Bobó (1942)

18h00
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Aniki-Bobó mostra logo algo que viria a ser depois muito visível na obra de Oliveira – o trabalho a partir da literatura. Neste caso, a ideia é adaptar o conto ao cinema. Só mais tarde irá Oliveira optar por adaptar o cinema à literatura, criando um cinema artificial, estranho, mas muito original. No entanto, Aniki-Bobó, filme fílmico, ainda não filme literário, vai, já na altura, contra a corrente da produção no cinema nacional e compreende uma previsão de algumas tendências do cinema influenciado pelo neorrealismo italiano. Muito antes das tentativas da geração do cinema novo português propriamente dita.

Realização, argumento, planificação e diálogos Manoel de Oliveira Obra original Meninos Milionários, de João Rodrigues de Freitas Fotografia António Mendes Música Jaime Silva (filho) Produção António Lopes Ribeiro e Manoel de Oliveira Duração 82 mn (35 mm; p&b) Estreia Lisboa, Éden, 18 Dez 1942.

“Non” ou a vã glória de mandar (1990)

20h00
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Este filme é também uma leitura, mas desta vez da história de Portugal que se faz não nos momentos de glória, mas, sim, nos momentos de algumas derrotas redondas. Porquê optar por uma visão tão pesada em vez de se orgulhar do que foi ilustre? Porque Oliveira não quer fugir dos temas polémicos, porque quer através do cinema compreender e fazer os outros compreenderem também o que se tenta esconder ou prefere silenciar, como, por exemplo, o período da colonização.

Realização, argumento, diálogos e voz off Manoel de Oliveira Fotografia Elso Roque Som Gita Cerveira Música Alejandro Masso Montagem Manoel de Oliveira e Sabine Franel Produção Madragoa Filmes; Tornasol Films (Espanha), Gemini Films, SGGC Films (França). Duração 111 mn (35 mm; cor) Antestreia Festival de Cannes, 14 Mai 1990. Estreia ForumPicoas, King, 7.ª Arte, 12 Out 1990.

20 de novembro

A Divina Comédia (1991)

18h00
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Num manicómio, diversos doentes tomam-se por personagens históricos e de ficção: Adão e Eva, Jesus, Lázaro e Santa Teresa d’Ávila; ou personagens dos romances de Dostoievski (Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov) e de Nietzsche (O Anti-Cristo). Acabam a recitar A Divina Comédia, de Dante. O filme é uma reflexão histórica muito particular, sem ligação direta com a obra de Dante. Segundo Manoel de Oliveira, o título foi escolhido sobretudo pela sua conotação irónica.

Realização, argumento e diálogos Manoel de Oliveira Textos extratos da Bíblia e de obras e personagens de Dostoievski, José Régio e Nietzsche Fotografia Ivan Kozelka Som Gita Cerveira Montagem Manoel de Oliveira e Valérie Loiseleux Produção Madragoa Filmes; Gemini Films, 2001 Audiovisuel (França). Duração 141 mn (35 mm; cor) Antestreia Festival de Veneza, 9 Set 1991 Antestreia portuguesa Lisboa, Cinemateca, 7 Out 1991 Estreia Lisboa, King, Nimas, 11 Out 1991.

A Caixa (1994)

20h15
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->trailer

Comédia em registo fantástico e absurdo. Nas velhas ruas e escadas da Mouraria, em Lisboa, há um cego a quem costumam roubar a caixa das esmolas; à volta dele vivem (ou passam) a filha, o genro e outros moradores e trabalhadores do lugar. Manoel de Oliveira disse que o filme era um regresso às personagens de Aniki-Bobó, agora mais velhos.

Realização, argumento, planificação e diálogos Manoel de Oliveira Obra original A Caixa de Prista Monteiro Fotografia Mário Barroso Som Jean-Paul Mugel Música Katchaturian e Schubert Montagem Manoel de Oliveira e Valerie Loiseleux Produção Madragoa Filmes, Gemini Films, La Sept (França) Duração 93 mn (35 mm; cor) Antestreia Festival de Cannes, 19 Mai 1994 Antestreia portuguesa Lisboa, Monumental, 16 Set 1994 Estreia Monumental, 18 Nov 1994.

Para o  comissário da mostra, Prof. Doutor Jankowski, “O que verdadeiramente impressiona é a qualidade do cinema que Oliveira começou a fazer no limiar da passagem do cinema mudo para o sonoro e que continuou a desenvolver nas épocas subsequentes.” E acrescenta ainda “Os seis filmes escolhidos, de um número que chega quase aos 60 filmes, é pouco, mas permite perceber a riqueza dos temas e estilos. Nem um tema, nem um género aqui se repete. Aliás, cada filme de Oliveira é uma aventura diferente.”

O objetivo desta retrospetiva é apresentar ao grande público polaco a obra do realizador português, ainda pouco conhecida na Polónia. Por esta razão, o Camões I.P. resolveu realizar esta mostra em pareceira com a Cinemateca Polaca e a Rede de Cinemas de Pesquisa da Polónia, e assim dar à mostra um alcance nacional. Neste momento, são dez as cidades que irão exibir a retrospetiva, mas é muito provável que ainda outras venham a juntar-se a esta iniciativa.

A edição de Varsóvia decorrerá entre os dias 18-20 de novembro, no Kino Illuzjon  e será acompanhada por dois convidados especiais: o pianista Bruno Belthoise, que irá tocar ao vivo a banda sonora do filme Douro, Faina Fluvial, no dia 18 de novembro; e o Prof. Doutor Jakub Jankowski que, quer através de introduções aos filmes, quer de sessões de discussão após os filmes, irá aproximar o público da obra do mestre português.  Em Varsóvia, no Kino Iluzjon, haverá ainda oportunidade para ver a exposição “O Cinema Português”, que, conta, em 23 cartazes, a história do cinema português.

Esta retrospetiva é organizada pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, em cooperação com a Cinemateca Polaca e a Rede de Cinemas de Pesquisa da Polónia, e contou ainda com o generoso apoio do Bank Millennium, mecenas desta mostra

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