23 de novembro de 2012 (6a feira) | 19.00

Stary BUW – Universidade de Varsóvia

Entrada livre

 

No próximo dia 23 de novembro, às 19:00, no edifício da antiga biblioteca universitária (Aula Starego BUWu – Campus principal da Universidade de Varsóvia – Krakowskie Przedmieście 26/28), o reconhecido musicólogo português, Prof. Doutor Rui Vieira Nery, irá proferir a palestra “O Fado Português: Das Raízes Afro-Brasileiras à World Music Pós-Moderna” (a palestra será em língua portuguesa com tradução simultânea para polaco).

A música Fado continua a aumentar a sua popularidade na Polónia, de ano para ano, pelo que se torna imperdível esta lição sobre como se formou este género musical e sobre as influências às quais deve o seu atual caráter. Relembramos que, em novembro de 2011, a UNESCO declarou a música Fado como Património Imaterial da Humanidade.

A palestra integra as comemorações oficiais dos 40 anos do Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Varsóvia. A entrada é livre.

Após a palestra, por volta das 20:15, será possível ouvir Fado na interpretação do jovem artista português João de Sousa e o seu grupo “Fado Polaco”.

 

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O Fado Português: Das Raízes Afro-Brasileiras à World Music Pós-Moderna

A história do Fado português é um longo processo de trocas interculturais, No contexto multicultural do Brasil colonial os ritmos e os padrões de dança africanos combinam-se com as harmonias e as formas europeias para gera uma dança cantada de forte sensualidade que atravessa o Atlântico para se implantar nos bairros populares do porto de Lisboa. A interacção entre o modelo brasileiro e as tradições locais da canção portuguesa leva gradualmente a um desaparecimento do elemento de dança e à atenuação do ritmo sincopado original, que dão agora lugar a uma atmosfera nostálgica e lamentatória, com um forte rubato na declamação do poema. Quando a aristocracia boémia e as classe médias urbanas “redescobrem” este género, nas décadas de 1860 e 70, o Fado passa a ter lugar no teatro musical ligeiro, começa a ser publicado em edições de folhetos para uso doméstico e acabará por se tornar num favorito da indústria discográfica nascente. Mas ao mesmo tempo, no seu contexto original operário, é usado como uma canção de luta associada ao arranque do movimento sindical e socialista.

Sujeito a uma severa censura e às normas de enquadramento legal da Ditadura, a partir de 1926, o Fado desenvolve-se em Lisboa na rede das chamadas “casas de Fado”, mas expande-se ao mesmo tempo a todo o País a partir da Rádio e mais tarde da Televisão. Por outro lado, graças à figura de Amália Rodrigues, entra gradualmente, a partir de finais da década de 1940, no circuito mundial do espectáculo. Amália e Carlos do Carmo terão nos anos 60 e 70 um papel decisivo na renovação poética e musical do género, mas a associação frequente do Fado à ideologia dominante do Estado Novo fará com que após a restauração da Democracia, com a revolução do 25 de Abril de 1974, haja um fenómeno temporário de rejeição do género. A partir da viragem para os anos 90 surge contudo uma nova geração de fadistas com grande projecção quer no plano nacional, junto do público mais jovem, quer na cena internacional, no contexto da chamada World Music. Em 27 de Novembro de 2011 o Fado é declarado pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade.

 

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Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957 e iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília, prosseguindo-os no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa (1980), doutorou-se em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin (1990), que frequentou como Fulbright Scholar e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Professor da Universidade de Évora e da Universidade Nova de Lisboa, orientou um vasto número de mestrados e doutoramentos em universidades portuguesas, espanholas e francesas.  É investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança e do Centro de Estudos de Teatro. Na Fundação Calouste Gulbenkian foi Director-Adjunto do Serviço de Música (1992-2008) e Director do Programa Gulbenkian Educação para a Cultura (2008-2012),  e é presentemente Director do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas (desde 2012).

Como musicólogo, é autor de diversos estudos sobre História da Música Portuguesa, dois dos quais receberam o Prémio de Ensaismo Musical do Conselho Português da Música (1984 e 1992), bem como de largo número de artigos científicos publicados em revistas e obras colectivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais. Exerce também uma actividade intensa como conferencista, no plano nacional como em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Os seus temas de investigação incluem a problemática do Maneirismo e do Barroco na Música ibérica e os processos de interpenetração cultural na Música portuguesa, do Vilancico à Modinha e ao Fado.

Como crítico e colunista musical, colaborou nos semanários Expresso e O Independente. É colaborador regular da Antena Dois da Radiodifusão Portuguesa, para a qual foi autor, entre outros, dos programas Sons Intemporais e Matrizes, bem como, com Vanda de Sá, do programa Ressonâncias. Participou em numerosos documentários radiofónicos e televisivos para a RTP, BBC, Radio France, NDR, Al Jazeera, TV Cultura e outras emissoras nacionais e internacionais. Foi consultor musical da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, da Régie Cooperativa Sinfonia e da Fundação de Serralves. De Novembro de 1991 a Junho de 1992 foi responsável pela concepção do projecto artístico do Centro de Espectáculos do Centro Cultural de Belém. Foi Comissário Nacional para as Comemorações do Centenário da República e Presidente da Comissão Científica da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO). É Académico Correspondente da Academia Portuguesa da História e foi condecorado em 2002 com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à Cultura portuguesa. É ainda Membro Honorário do Fórum Ibero-Americano de Artes e recebeu em 2012 o Prémio CICOP Internacional de Património Cultural Imaterial atribuído pelo Centro Internacional de Conservação de Património. Entre Outubro de 1995 e Outubro de 1997 desempenhou as funções de Secretário de Estado da Cultura no XIII Governo Constitucional. É desde 2010 membro individual do Conselho Nacional de Cultura.